Depósito de Quinquilharias

Jullien puxa uma tragada forte, profunda e envia um olhar sagaz para Victor. Cruza as pernas e fixa o olhar, como um leopardo que encontrou uma carne fresca de algum filhote de bichos da áfrica por aí vacilando.

— Se você acredita que foi isso que aconteceu, como posso dizer que o plano desandou? É verdade para você, então sua mente o tornou real e a realidade é contagiante parceiro.

A fumaça sai espessa e disforme, mas essa deformidade traz uma forma. É possível ser um efeito do sonho, mas a forma abre uma tela para que imagens sejam projetadas.

— Eu não tenho a intensão de atrapalhar tua evolução, na verdade, é hora de você seguir sozinho e cair, levantar e seguir em frente, parte do aprendizado. Nem vim aqui comentar sobre sua decisão, é tudo seu, porra, é isso.

Ele se levanta, arruma a roupa e os trapos, na verdade, parece estar se preparando para sair, mas, por um instante, tateia os bolsos e procura algo. Coloca cigarro na boca e libera a outra mão. Jullien então se aproxima de você e, como um mágico de festa infantil, puxa uma moeda escondida atrás de sua orelha.

— Hora da mágica começar, deixa fluir, segue teus instintos, bota pra fuder, se vira! Te espero no ponto de chegada!

Ele pega na mão de Victor e coloca a moeda no centro dela e fecha-a, e começa a sair andando em direção oposta a luz.

A tela projeta Strucker e Diana caricaturados, animações grotescas, que se movem como um gif. Chorando e depois um sorvete atinge a cabeça de Strucker e Diana começa a sorrir, todos riem. A cena se repete e se repete.
A fumaça se esvai aos poucos.

Aquela noite passou voando, mesmo com tanta coisa na cabeça de Victor para pensar, o cansaço o venceu e vencido ele adormeceu como Morfeu. Jogado no fundo da cama, afundando como uma pedra no fundo do rio, indo em direção ao além como um asteroide.

Os olhos se abrem, o local é pouco familiar, um depósito? Sujo e cheio de quinquilharias e coisas cobertas por uma lona de caminhão, sempre grossa, suja, empoeirada e marrom. No centro uma luminária traz um foco de luz curto e limitado, há duas cadeiras e uma delas tem alguém.

Ofuscado pela luz, o rosto da pessoa não se forma completamente, mas no interior de Victor, em seu subconsciente, é Jullien a imagem que ele vê. Mais alguns passos e olha só, o maldito Jullien. Sentado na cadeira tragando um cigarro. Ele puxa uma tragada cavernosa mesmo, e expeli mais CO₂ que um trator de esteira.

Ele empurra com um pé a outra cadeira e faz um sinal indicando para que sente usando a mão que carrega o careta.

— Senta aí, parceiro! Quero levar um papo contigo, e só achei esse lugar que considerei seguro pra não ter bronca!

O inglês dele é meio incorreto mesmo, um linguajar carregado de gírias da rua, ou só falta de gramática.

O sobretudo dele é meio estrupidado, mas tem estilo, anéis de prata em vários dedos, o visual dele é de um roqueiro dos anos 80.

A luz gera três sombras quando Victor se aproxima, a sombra de fato é um fenômeno que tem várias explicações. A sombra é a medida do corpo com relação à luz projetada sobre ele. Assim, a luz mediu Victor como três.

Me perdi em devaneios e adormeci como alguém que morre numa colisão frontal, não dá tempo de entender ou sentir.

Mas de repente eu já não estou mais dormindo, estou num depósito velho, acho que são coisas da minha família, mas não consigo ter certeza.

No centro das coisas abandonadas e empoeiradas está uma luminária com uma luz baixa direcionada à duas cadeiras e em uma delas está o meu arrombado favorito, Julien du Metal!!! fumando mais que a desgraça em dia de cachaçada.

Ele diz pra eu sentar e fala que só conseguiu esse lugar seguro pra falar comigo. Sem esperar muito eu me aproximo, mas.. Perae! Espera! observo que tem três sombras a partir do meu corpo e somente um ponto de luz. Olho intrigado para as três sombras. Já aconteceram coisas demais comigo, não vou me profundar no que eu estou vendo, afinal me parece óbvio que nada disso é real. Ignoro as sombras e continuo o caminho até sentar na cadeira.

- Porra, tu não me deixa nem dormir?! O que foi agora? O plano desandou e a S.I. apareceu? eu falo com a normalidade de quem entende mesmo sem entender.

Foi para