Ponto de partida

A voz do piloto se esforça para transmitir calma, mas essa serenidade logo será engolida pelo desenrolar dos acontecimentos. A realidade é nítida: o avião está prestes a fazer um pouso de emergência. Esta mensagem ressoa firme e clara, pronunciada por um homem ciente de que guiar o gigante AIRBUS 320 de volta à terra é o maior desafio que já enfrentou.

Ao lado da sua poltrona, um homem de meia-idade, com alguns quilos a mais, carrega consigo o peso de um caso extraconjugal ou um divórcio recente, um fato deduzido da marca pálida no dedo, onde uma aliança costumava brilhar. Ele parece estar à beira de um ataque cardíaco ou derrame, mas a verdade é que ele procura por remédios em sua bagagem de mão, como se a queda iminente da aeronave fosse um prenúncio de morte distante.

Enquanto a turbulência lança o caos com luzes intermitentes e bagagens desabando de todos os lados, uma figura destaca-se: uma mulher, vislumbrada como uma loira, tenta infundir calma nas pessoas, um exemplo notável de altruísmo em ação.

No fundo do corredor, um indivíduo com a aura de uma estrela de rock dos anos 90 observa o caos ao redor com uma serenidade que desconcerta. Seu desdém incomum perante a anarquia emana de forma palpável.

Os eventos desenrolam-se em uma vertiginosa sucessão, culminando com a violenta colisão do nariz do AIRBUS contra o solo, resultando em um escorregão descontrolado até um impacto contundente e final.

Alguns encontram a morte, outros sofrem ferimentos, e entre eles está Victor, que compartilha o infortúnio com a enfermeira Jessica Hickman. No caos pós-acidente, eles entram em uma conversa fluida.

Bombeiros, ambulâncias, policiais e repórteres invadem a pista de pouso, enquanto Victor e Jessica preparam-se para emergir do tumulto. É quando Julian aparece, um nome que carrega consigo a excentricidade típica dos fãs de Bon Jovi. Ele deixa um cartão intrigante e é rapidamente levado por agentes misteriosos — policiais ou talvez agentes da S.H.I.E.L.D. — deixando uma aura enigmática pairando em torno de Victor. Com o bilhete em mãos, Jessica e Victor encaminham-se para o mesmo hotel, onde os caminhos de ambos se entrelaçam de maneira inesperada.

*OFF-GAME* Este é o resumo do que aconteceu na sessão zero do personagem, seu jogo presencial o trouxe até aqui.

Após se despedir de Jessica, Victor vai para seu quarto levando sua bagagem buscando uma forma de colocar a cabeça no lugar após ter quase morrido em um desastre de avião. Ainda lhe vem a mente o político sentado ao seu lado sofrendo o infarto.

Embora tenha muito a ser digerido, o evento final da prisão de Julian ao chegar no hospital foi o mais fora da curva.

Ao entrar no quarto e tomar um longo banho é que Victor começa a colocar a cabeça para pensar no que fazer.

O papel por si só não chama muita atenção, o cartão recebido por Julian tem um formato retangular e uma cor carmesim sem nenhum nome ou numero, a única dica é uma seta que aponta para um canto do papel e lá nada há.

Victor quase pode ver o excêntrico estranho sorrindo em sua cabeça, aquela gargalhada que vai aumentando de tom com ênfase no sadismo. Deve ter algo ali, escondido nas entrelinhas, esse tipo de coisa é bem a cara daquele maldito.

E tão logo surgiu na ambulância, esgueirando para passar desapercebido pelas viaturas, logo foi retirado por dois caras vestidos de M.I.B e se foi. O que será que acontecerá com Julian? O cartão ainda é a dica mais útil.

*LANÇAR DADOS — raciocínio + investigação, dificuldade 3. Ao responder o post, inicie por uma jogada de dados normais segundo a pontuação da ficha do personagem. A depender do resultado, a resposta será adaptada para a investigação do cartão de visita de Julian.

O smartphone e o laptop ligados, a TV do quarto no noticiário que dá mais detalhes sobre o político que infartou, dividindo sua atenção entre tantas tarefas, Victor ouve algo que lhe chama atenção.  O político tem muita relevância local, autor de um projeto polêmico que desapropriaria uma região periférica para um novo empreendimento imobiliário.

“O republicano Jordan Hatton vinha causando polêmica ao criar um projeto imobiliário que gerou uma grande repercussão no meio político. Futuro pré-candidato ao senado, Jordan tinha apoio do ex-presidente D. Trump e muitos negócios em comum também.”

O jornalismo tendencioso e parcial é um sintoma do momento político, investigado pela Corte, D. Trump e seus aliados vivem momentos difíceis. Victor quase pode ouvir seu pai sentado no canto da cama fumando um charuto fedorento com um copo de whisky comentando a notícia que acabou de ouvir.

Victor olha para a tela do Macbook e, mais uma vez, olha para a cama, certificando-se de que o maldito já foi embora de seus pensamentos. O que vê é apenas o corpo caminhando para o banheiro, enquanto sua mãe tira uma maquiagem pesada e briga contra o “Cohiba Esplendidos” e diz, com um tom arrogante e frio: — Você já não deveria estar na cama, feio?

A pesquisa pausa por um tempo, o pensamento fica desconexo, as abas continuam abertas no Firefox, porém não fazem nenhum sentido agora. Isso dura algum tempo e logo passa.

Keith Seadeller, amiga da noiva e de Jessica. Ela não estava no saguão do Hilton pouco tempo atrás, não causa nenhuma estranheza. É a mais rica dentre as amigas, e curtiu todas as fotos que o noivo aparece sozinho, a vadia rica também segue o noivo em três redes sociais e sempre comenta os posts que ele faz.

O noivo, Beniamino Sionitelli, sim, é de origem italiana, um tipão com cara de gigolô europeu que não passa nenhuma confiança, certamente deve ter transado com outras amigas da noiva. Filho de família importante que deve ter alguma fonte de renda ilícita. No geral, não tem nada que indica que ele trabalha ou faz algo da vida. Isso porque suas fotos em viagem com alguma filantropia forçada não significam nada.

A noiva, Nicole Black, nome artístico, é a típica cara do sonho americano, já teve algumas aparições menores em seriados e comerciais locais, uma sub celebridade que está vivendo a esperança de um papel mais importante. Claramente alguém que faria tudo para aparecer, até mesmo dar para um diretor de Hollywood se pudesse.

Os demais são cínicos ou idiotas que parasitam aqueles que tiveram alguma sorte na vida ou se esforçaram bastante para chegar lá, o que não é o caso de Jessica. Ela é a única autentica, com alguma verdade, digna e honrada.

*OFF-GAME* Pagando o preço…

Victor se volta para a tarefa de encontra o detalhe escondido em 4×10 cm de papel do cartão entregue por Julien, parece simples, com uma seta indicando um canto do papel. Então, Victor tenta mexer na ponta do cartão e acaba se cortando, corte seco e fino que faz sangrar.

A imagem refletida agora no espelho do quarto do Hilton é de um garoto com o nariz quebrado, o sangue escorre de seu orifício nasal e atrasa dele uma cena tantas vezes vista pelo jovem Victor. O pai descontrolado agredindo a mãe, com o jovem herdeiro se metendo na briga e levando a pior, aconteceu mais vezes do que consegue lembrar.

Uma lembrança traz a reação e Victor começa a se debater no quarto, a organização antes impecável desmancha como um castelo de cartas. A reação exagerada se estende por minutos até ser interrompida por um funcionário do Hotel que bate na porta e pergunta se há algum problema e recebe a resposta cínica que não!

A gota de sangue no canto do cartão é espalhada por uma haste de plástico, a luz roxa sobre o papel revela uma figura estranha, agora tem um ponto de partida.

Decido mexer naquela ponta do cartão, mas sinto uma dor aguda, como se tivesse me cortado. A imagem refletida no espelho me mostra um menino assustado, com o nariz quebrado e sangrando. Lembranças de meu pai agredindo minha mãe e eu me intrometendo surgem em minha mente. Enfurecido, começo a destruir o quarto como um tornado. Minha fúria é interrompida por um funcionário do hotel que bate na porta.

Olho para a gota de sangue no canto do cartão, e uma sensação de determinação toma conta de mim. Parece ter sido proposital aquilo. Pego uma haste de plástico e espalho a gota de sangue sobre o papel. Dentro da mala, busco um equipamento e pressiono o botão power. A luz roxa que incide sobre o papel revela uma figura estranha, um enigma que se desenha diante de mim.

Paro por alguns segundos e decido desligar todas as luzes do quarto. Pego o equipamento de luz à base de luminol, caminho até os interruptores e deixo o ambiente em total escuridão.

Passo o Luz por todo o quarto sobre minhas malas, e a roupa que eu estava vestido durante o voo.

Como a mala e as coisas do quarto revirado poderiam criar uma figura que fizesse algum sentido? Essa é a primeira coisa que Victor se pergunta ao ligar a luz roxa por todo quarto. E o mais incrível e inexplicável que isso é ver que, a figura é exatamente igual ao cartão.

A euforia antes sentida dá lugar há um espanto assombroso da coincidência dos fatos, mesmo diante de seus olhos, não é fácil digerir essa informação.


Três círculos, quatro cruzes, um "S", isso quer dizer...? Victor, ainda tentando assimilar a informação, observa a varanda e vê Julien com aquela gargalhada sarcástica. Ele puxa um cigarro do sobretudo e procura um fósforo, claramente fica apalpando os bolsos procurando a maldita caixa.

Ele mostra uma caixa de fósforos no chão e se abaixa para pegar. É um objeto de papel onde os fósforos ficam agrupados lado a lado, então você destaca um e fecha a embalagem para pressionar o pavio contra a fita abrasiva e então gerar a combustão por atrito para incendiar.
Esses tipos de caixa de fósforos são personalizados e geralmente trazem o logo do estabelecimento.

Victor chega a ouvir o maldito Julie falar:
- Eu sei que pareceu uma pista no começo, mas, na verdade, era só uma piada de mau gosto. Eu precisava despistar aqueles caras de terno e certamente eles vêm atrás de você.

Julien dá uma tragada a mais e enquanto sustenta um pouco mais a fumaça nos pulmões, levanta a cabeça e fecha os olhos saboreando a nicotina preenchendo sua boca, ele agita a mão para tirar as cinzas. Então solta a fumaça e volta a falar.

- Eu nem perguntei se você tem bom senso de humor, mas agora é o que é, olha só já amanheceu e eles veem chegando aí. Fica a seu critério, que pista vai dar a eles, o cartão com nada ou a caixa de fósforos.

Julien passa por você e lhe entrega a caixa de fósforos, ele vai até a porta, abre então olha o corredor e fala:

- Vou ganhar algum tempo para você, vê se não estraga tudo!

Victor desperta com uma voz apressada batendo a porta do hotel, sua confusão matinal o deixa levemente desorientado por alguns segundos. Cinco, quatro, três e voltou ao normal.

*OFF-GAME* Todas as jogadas de dados desabilitadas temporariamente.

(Pensamentos e ações em primeira pessoa. Falas com travessão. Estilo Sin City)

O que é que estou fazendo? Anda, vamos lá, Victor! Que porra é essa? Eu sabia que tinha alguma coisa aqui eu sabia!

Começo a ficar trêmulo e com minhas mãos suadas. Não consigo controlar. Meu coração palpita mais rápido, um nervosismo incomum corre acelerado por minhas veias. Medo e excitação juntos.

– 3 círculos, 4 cruzes e um S. Um enigma?
Não contenho meu próprio sorriso.

Do nada, vejo Julien na varanda com a mesma marra sarcástica. Acho que ele quer morrer, acho que ele quer que eu o mate. Ele sabe que eu quero e ele também quer isso.

Porque uma das cruzes foge do círculo?

Ele puxa um cigarro e não tem um maldito isqueiro estiloso? Essa atitude destoa completamente daquilo que ele apresenta até agora. Por todas as características apresentadas seria exigível que houvesse um isqueiro estiloso, de aço, com entalhes ou um mini maçarico, talvez um elétrico em formato de cartão com USB, não importa. Esse fósforo não colou.

Ele aponta uma caixa de fósforos personalizada no chão e se abaixa para pegar. Enquanto ele acende o cigarro, observo a logo do estabelecimento na caixa.

Julien fala.

Pista? piada? caras de terno? atrás de mim? Ah, cara, hoje é meu dia de sorte. Pensei que essa volta a Chicago seria muito estressante, mas confesso que me surpreendeu e continua surpreendendo.

Humor? claro que tenho. Sinto minha faca passando no pescoço dele lentamente enquanto ouço outra vez seu sorriso. Ah, meu querido Julien.

Os caras de terno vem chegando? Cartão ou fósforos?

Eu pego a caixa de fósforos de sua mão. Ele sai e diz que ganhará um tempo pra mim, mas não sei se quero um tempo. Talvez eu não queira.

No segundo seguinte eu desperto. Nem sei onde estou.

Alguém bate a porta.

Demoro a entender o que está acontecendo, me sinto estranho, confuso. Um cenário meio Noir.

Levanto da cama e caminho até a porta para atender. Giro a trava do trinco com a mão esquerda, abro a porta.

– E aí?

Um homem com uma testa grande, vestido com uma camisa listrada e uma gravata vermelha, em seu blazer preto de couro sintético, um pequeno broche que quase passa desapercebido.
Ele tem voz grave e boa dicção, sua fala bem articulada carrega um tom áspero que deixa claro suas intenções. Ele se apresenta e pede para entrar.

— Bom dia, senhor, Sinclair não é mesmo? Desculpe bater na sua porta tão cedo, mas você estava no voo Airbus que teve problemas e fez um pouso de emergência ontem. Me chamo Theodore Comptor, sou investigador do Departamento de polícia de Chicago.

Dá para notar o maxilar dele se articulando enquanto ele mantém o olhar fixo, fitando suas reações pela abertura da porta do hotel.

— Posso entrar e lhe fazer algumas perguntas?

Um cara feio e mal vestido está do outro lado da porta. Será que é esse o cara que o Julien falou?
Han? o que eu pensei? Julien? Julian estava no meu quarto? Que porra é essa?

Fixo o olhar no broche preso ao blazer enquanto ele me apresenta, se apresenta e fala o que veio fazer.

Com a mão esquerda que está atrás da porta, retiro o cartão da trava, passo pela porta e em seguida fecho o quarto ficando em pé no corredor cara a cara com o investigador Comptor.

— O senhor tem dois minutos, Investigador, dois minutos.

Ponho o cartão do quarto no bolso da calça e deixo claro que eu não permiti a entrada dele.

— Estou tendo uma dia péssimo como o senhor facilmente pode imaginar. Tenho compromissos atrasados e minha estadia em Chicago não é a passeio. Prossiga, senhor... Comptor.

Entrego minha mensagem com o tom de voz, dicção e expressão de um homem pouco acessível em que o tempo custa muito dinheiro.

Na verdade, tudo isso parece um sonho ou uma ilusão. Algo não parece real. Estou sonhando?

O broche é claramente um símbolo maçom, e enquanto se esforça para ser discreto ao fitar os olhos sobre o apetrecho alfinetado no blazer, fica evidente a constatação da falta de beleza que o investigador Comptor apresenta.


Ele ouve suas palavras apressadas e seu total desinteresse em atendê-lo como deveria, sem meias-palavras, Theodore observa o máximo de detalhes que consegue captar de Victor, ele meneia uma das sobrancelhas e entorta a boca consentindo contrariadamente com sua postura atarefada.

Ele tem um cheiro de creme de barbear antigo, talvez uma marca tradicional e bem regional que o deixa com um odor de mala de barbeiro, o cheiro é bem nostálgico para Victor.

No corredor, enquanto tenta encerrar a conversa, vem vindo um funcionário do hotel, serviço de quarto levando uma garrafa de champanhe que você sabe que é bem cara, parece um "Dom Perignon", e seus olhos não podem acreditar quando constatam que se trata de Julien, vestido de serviço de quarto.

Ele caminha com um sorriso contido levando a garrafa em um balde de gelo com duas taças. Deve estar indo para o quarto da noiva, a amiga de Jéssica.

O investigador deve ter falado algo que você não ouviu e passou, já era. Ele está parado com um olhar questionador, enquanto segura em uma de suas mãos, um cartão profissional estendido para você.

Julien, segue com o carrinho, acelera o passo e simplesmente esbarra no investigador, o balde com gelo tomba, a garrafa cambaleia, as taças voam direto para o chão, o investigador se espanta com o contato, a garrafa cai no chão.

3 segundos e a cena é um total desastre e constrangimento, o funcionário do hotel se abaixa para limpar, e às vezes pensa que o melhor é juntar os cacos de vidro, o líquido caro se esvai pelo corredor.

Victor observa a cena e não vê mais Julien no funcionário do hotel, o investigador entrega o cartão de vez sem falar mais nada, limpando a roupa com um lenço da mesma cor da gravata.

O funcionário se desculpa, e o investigador sai reclamando. Victor assisti e vê mais uma vez o reflexo do rosto de Julien no champanhe derramado pelo chão.

Quando o investigador está virando o corredor, Julien se levanta e puxa uma segunda garrafa da parte inferior do compartimento do carrinho e mais duas taças intactas, recolhe o gelo que pode e enxuga as mãos no avental e fala após confirmar que o Comptor já foi.

- Esse velhote com cara de gnomo de banco dos filmes de Harry Potter não vai te deixar mais em paz, e nem tente ser mais esperto que ele, só vai cair em seu jogo.

Maçonaria? certo. anotado!

Ele ta tentando me sacar, me olha todo, meus trejeitos, minha roupa, qualquer tique. Mas estou te entregando os detalhes que eu quero, da forma que eu quero, seu velhote de merda.

Ah, esse cheiro. Maldito. Me lembra meu pai. Poderia abrir tua barriga até o centro da testa com uma serra de unha.

Um funcionário trazendo um Dom Perignon Rose Gold Methuselahse de 1996 se aproxima pelo corredor e essa é minha deixa.
Caralho!! é Julien???? Só pode tá de brincadeira. Não posso rir agora, não posso rir agora!! Me concentro e sigo firme na postura de quem ta pouco se importando com o que aconteceu no avião e está preocupado com seus próprios problemas.

O investigador continuou falando, acho que era do voo, não prestei atenção. Ele me entrega um cartão e eu pego sem dizer nenhuma palavra.

Julien esbarra no investigador, foi proposital. Cai tudo no chão, vira uma lambança. uma garrafa de 750ml de mais de 10 mil dólares se quebra no chão.

Julien se abaixa mexendo nos cacos ao redor, mas... não é mais ele. Cacete, eu to sonhando. Eu to sonhando.

O rosto e Julie se projeta no reflexo do líquido, já não sei mais quem é quem.

Depois que o investigador desaparece, Julien reaparece e puxa novos kits do serviço de quarto resmungando do velho veio. Parecia armação, proposital. Mas como ele sabia?

Tento me concentrar nos detalhes ao redor preciso encontrar o caminho de volta para lucidez.

Me abaixo, pego um caco de vidro e tento fazer um corte na mão. A dor me levará de volta ou.. eu levarei a dor a todos!

O corte superficial é o suficiente para fazer o sangue fluir até que uma gota, uma simples gota atinja o chão.

O impacto do fluido ao tocar o chão quebra o silêncio da loucura, parece claro que isso tenha lógica, no fim só Victor sangra.

A sensação de que algo espreita nas sombras cresce rápido, embora esteja claro para Victor que há um caminho por onde pisar sem chamar a atenção.

É como antes, como no último crime ou no primeiro, a lógica do crime é sutil e se rende ao frio raciocínio do criminoso. A lucidez desejada volta, quando percebe que há um alvo, ou vários, e dessa vez será diferente.

Anuladas as distrações, sua perspicácia se aguça no tocante da tarefa a frente, há um enfadonho contratempo com um cliente mala, coisas do trabalho.

Asqueroso, nojento e repugnante burocrata filha da puta de merda; louco para ser a próxima vítima.

Victor fica parado no corredor por 30 segundos, ou um pouco mais, de volta ao controle.
O evento termina, mas essa é a primeira vez que Victor sente que perdeu o controle para alguém dentro da sua mente, isso não faz muito sentido e deve ser entendido como o marco zero.

O telefone celular toca, não o celular pessoal, o smartphone da empresa, deve está jogando por algum lugar no meio da bagunça. Nessa bagunça também tem a caixa de fósforos.
Last Chance Saloon. A caixa de fósforos de papel toda preta com o nome gravado em lilás com seu endereço gravado em letras menores ainda.

Ave. Michigan, n 846. O endereço que está quase apagado. Detalhe novo, por trás dos palitos tem um nome escrito de caneta esferográfica azul. - Nines.

Uma coisa ocorre a Victor, será que o Julien correu todo o risco de me seguir até Chicago, quase morreu na queda de um avião, escapou da polícia entrando numa ambulância só para colocar essa caixa de fósforos na minha bagagem e criou a distração de um cartão obvio para despistar os caras de terno?

Last Saloom Chance deve ter as respostas para esse mistério, e Nines é a pessoa qualificada para dar as respostas.

A gota de sangue desacelera antes de tocar o chão e o faz em câmera lenta nos centímetros finais. Fico preso à essa sensação interminável, como um loop infinito.

Na minha mente, o impacto do fluido ao tocar o chão se assemelha ao deslocamento de ar causado pela explosão de uma bomba, mas ao invés de me atordoar, me traz clareza desejada: No final de tudo, foi eu que sangrei!

Meus erros e falhas parecem megafones gritando tentando me avisar algo.

Como uma sensação élfica, sinto que as sombras de Mordor estão se movendo rapidamente.

Perdi o controle para um inquilino dentro da minha mente que não está pagando aluguel, mas é a primeira vez que isso acontece. Nada disso faz qualquer sentido, mas já tomei nota.

O telefone da empresa toca bem alto. Tenho um retrabalho pra fazer por causa daquele filho da puta.

De volta ao quarto, me ponho a procurar o telefone no meio da bagunça. Encontro uma caixa de fósforos.

A descoberta do nome "Nines" escrito dentro da caixa do "Last Chance Saloon" me intriga. Aquele jogo de gato e rato com Julien, o cartão enigmático, o acidente de avião, o investigador na minha porta e agora essa nova pista... Tudo isso parece fazer parte de um quebra-cabeça complexo que preciso resolver. Além disso tenho que planejar algo para Jéssica, Keith Seadeller e os noivos.

Decidido seguir adiante, minha próxima parada deve ser o "Last Chance Saloon." O endereço gravado na caixa de fósforos me indica o caminho, e sei que preciso encontrar respostas.

Primeiro, pesquiso informações sobre o "Last Chance Saloon", como endereço, horário de funcionamento e qualquer detalhe que possa me ajudar.

Após a pesquisa, retorno a ligação pelo celular da empresa.

"- Alo?!"

A voz do outro lado da linha é conhecida, a secretária da sua empresa de seguros, ela explica de forma clara o roteiro e os detalhes do processo burocrático.

Seu cliente não é 'flor que se cheire', certamente tem envolvimento com negócio ilícitos e seu faro para esse tipo de coisa não costuma falhar. Roger Temple, um nome que não inspira muita confiança.

Um típico caso de adulteração de documentação, um incêndio criminoso se tornando um sinistro evento. O armazém guardava contêineres, provavelmente material sem nota fiscal ou qualquer coisa dessa natureza, o FBI apertou o cerco e o maldito deu fim nas provas.

O Departamento responsável (similar ao corpo de bombeiros) emitiu tardiamente um laudo que favoreceu esta versão forçada, claro que este documento também é objeto para sua análise.

Agora, de posse desse laudo. Sr. Temple quer reduzir os prejuízos jogando esse custo para a seguradora.

Denise, a secretária, informa que os laudos e contraprovas estão na sua caixa de e-mail, ela tenta parecer menos formal e pergunta timidamente sobre sua saúde, afinal passou no noticiário que o voo teve problemas na aterrizagem.

O dia de Victor está repleto de tarefas e mais tarefas, mergulhando rapidamente em um nível de estresse padrão de um dia de trabalho comum, a rotina torna as horas do dia um mero passatempo fútil onde os detalhes vão se perdendo.

*OFF-GAME* teste de determinação + percepção, dificuldade 3. Para analisar os dados e criar um roteiro de abordagem que não permita seu cliente safado tentar empurrar esse prejuízo para o seguro pagar.
Presumindo que Victor vai analisar os dados imediatamente, o relógio avança até que horas depois alguém bate a porta novamente.

(RESUMO DA PARTIDA JOGADA NA MESA em 30/10/2023)

Victor Sinclair passou o dia trabalhando no caso Roger Temple.

Com base no que a secretária encaminhou a ele por e-mail, Victor trabalhou nas inconsistências entre laudos, testemunhas, evidências físicas e outros, a fim de encontrar os pontos de divergências.

Victor analisou ainda quem assinou os documentos, quem emitiu, quem autorizou. Juntou todos esses nomes e repassou para a secretária despachar a tarefa para o setor jurídico analisar o histórico envolvendo essas pessoas para apontar envolvimento, corrupção, influência, processos anteriores e tudo que possa indicar manipulação, além de requerer ao setor um parecer sobre o prazo legal para a emissão de laudo pericial. (2 tarefas)

Quanto aos documentos adulterados, Victor confrontará pessoalmente o órgão que emitiu solicitando cópia do original. (tarefa para o dia seguinte)

Quanto ao laudo tardio, Victor acredita que o problema está entre o perito que produziu o laudo e o responsável por sua emissão. (Análise depende da resposta do jurídico)

Victor analisará ainda a necessidade de contratar um perito particular para analisar o lugar do incêndio a fim de encontrar provas e evidências que apontem a origem dos contêiners. A partir daí será possível estabelecer se o conteúdo do contêiner era legal ou não.

Por fim, após a obtenção de todos esses dados, Victor avaliará ainda se encaminhará ofício ao FBI solicitando contribuir com as investigações, para também obter acesso a mais dados. Decidirá, também, oportunamente, se colherá novo depoimento do Roger Temple.

É o relatório.

Chicago - IL
31/10/2023

Victor Sinclair
Analista de seguros.
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Jéssica foi até o apartamento de Victor para comunicá-lo do horário das fotos para o casamento e para combinar uma saidinha mais reservada entre os dois. Victor confirmou a saída deles e aproveitou para informar que iria direito do escritório para o evento.

Victor deixou um álibi preparado, mas a intenção real era aproveitar a janela de pouco mais de duas horas, para ir até o Last Chance Saloon buscar alguma pista de tudo que estava acontecendo, porém, ele avaliou a necessidade de retirar suas malas com seus pertences do Hotel Hilton para retornar à sua reserva inicial em outra pousada da cidade, afinal de contas, o investigador oldschool poderia tentar se aproveitar desse tempo fora do hotel para invadir o apartamento e bisbilhotar as coisas de Victor. Dessa forma, o jovem analista transferiu-se para outro hotel sem fazer o checkout no Hilton para não chamar a atenção.

No caminho para até bar misterioso, Victor conheceu "John Cock", um taxista com uma grande história envolvendo o Last Chance Saloon. A conversa inicial era um alerta ao risco existente naquela região para pessoas de fora, mas ao fim do papo os dois já estavam na porta do Last Chance tentando escapar da vantajosa investida de um colecionador aficcionado no trompete do pai do John, mas também "emocionados" com a possibilidade de reaver um item histórico para a família de John Cock.

(trilha sonora: wisky blus)

Convidados a entrar, ambos sentaram-se para jantar aos cuidados do barman que serviu o prato da casa. Os adornos seculares do Last Chance pareciam transportar o bar do meio de Chicago para outra era. Várias fotos e artefatos traziam à tona uma época de grande regozijo na vida de john e seu pai tocador de trompete, inclusive uma foto do velho e do moleque, além de uma foto, de 1920, da maravilhosa e deslumbrante Nine. O velho John parecia ter muito prestígio naquele lugar.

Na segunda etapa da visita, ambos subiram até o piso superior para encontrar a chefe do lugar, uma descendente direta de Nines, tão igual que a própria Nines da foto de 1920 parecia estar vida no meio de todos.

A nova Nines, sempre muito gentil e firme, entregou o relógio, que tinha uma bela história de carteado, ao John. Enquanto ele envolvia-se com as memórias do passado entalhadas no objeto, Nines colocou-se a andar pelo ambiente acompanhada de Victor, mostrando-lhe fotos e contando mais histórias.

Uma das fotos, datada de 1987, mostrava um jovem rebelde, menos estiloso e sem o toque estrela do rock, fumando um cigarro, com um dos pés sobre outra cadeira. A foto seria absolutamente normal para a época caso não fosse o Julien ali sentado. Simplesmente não haveria como não ser ele, mas em 1987.

Encerrada a visita, Nines deixou as portas do Last Chance abertas para ambos retornarem e ofereceu uma caixa de fósforos como forma de convite pessoal. Victor não só conhecia aquele convite como possuía 2, agora.

Jantar pago e corrida paga. De volta ao hotel, era hora de ir se arrumar para o evento, mas não antes de descobrir que seu novo melhor amigo havia penhorado o Trompete há 8 anos. Por causa de sua luta contra o álcool, o motivo de vergonha dele era enorme, mas não tão grande quanto a possibilidade de recuperar esse instrumento e fazer uma dívida de gratidão com o novo amigo. "Vamo lá, ebay! aqui não tem mercadolivre".

O relógio se aproximava das 18 horas. Jéssica já deveria estar aguardando.

(trilha sonora: música animada de aventura se aproximando)

Victor se arruma e vai ao evento.

" - Ok, ok! Here we go! "


(fim do resumo da mesa. depois eu posto as impressões de Victor sobre tudo que aconteceu)

Naquele momento existiam 3 pilares principais para Victor Sinclair. Um com os mistérios envolvendo Julien, outro com aquilo que Victor mais gostava de fazer e por último do seu trabalho com o stress padrão dos casos irritantes.

IMPRESSÕES DE VICTOR SINCLAIR

- Julien numa foto de 1987 com aparência de 23 anos e hoje, 2023 com cara de 35?? Nem fudeno! tem uma coisa errada bem aí. Era pra estar beirando os 60 anos, igual ao Axel Rose, inchado.

- Uma coincidência seria até normal, mas duas???? Como a Nines também pode parecer exatamente a mesma pessoa? Ah, mas se bem que, de 1920 para 2023, é absolutamente normal se parecer geneticamente com um antepassado distante, mesmo com cara de Xerox de PDF. Não sei. Tudo isso é muito estranho, mas a Nines é uma gata.

- O Julien com cara de tédio naquele avião parecendo saber que aquilo aconteceria, depois fugindo e pego por uns caras na ambulância. Será que eram os inimigos da Nines ou o Julien tem seus próprios inimigos? Depois ele apareceu no hotel com um cartão e a caixa de fósforos. A caixa, à propósito, era convite para o Bar que tem fotos antigas das mesmas pessoas. Definitivamente algo não está correto.

- O ingresso no bar e a própria Nines pareceram tão perigosas do ponto de vista do John, mas ao final foi tão fácil e aconchegante como a casa da vovó. Isso me parece estranho, divergente.

- A própria história de pulso firme, lutas e inimigos contada pela própria Nines diverge da permissão que ela deu a um estranho e branco, não só para entrar no bar como também para estar na sala mais importante, a dela. Isso me parece estranho demais.

- Não fui intimidado momento alguém, fui tão bem recebido quanto no hotel Hilton. Mas alguém que usa roupas no estilo militar, que tem pulso filme, que lutou por classe e que tem inimigos na cidade não vai abraçar um estranho e colocá-lo de boa vontade dentro de sua casa sem fazer uma porção de perguntas ou até um teste de tortura. Tem alguma coisa errada. Será que o John inspira essa exagerada confiança? não sei.

- Mais uma vez eu me pergunto, será que o Julien correu todo o risco de me seguir até Chicago, quase morreu na queda de um avião, escapou da polícia entrando numa ambulância só para colocar essa maldita caixa de fósforos na minha bagagem, criar a distração de um cartão obvio para despistar os caras de terno? Pra que tudo isso? pra eu ver uma foto dele de 1987 com a mesma cara? Não faz sentido, nada faz.

- De qualquer forma tenho uma nova conexão. O John Cock deve ter conhecido a estrela do Rock em ascensão na fotografia da sala da Nines. Ele vai me trazer mais informações! Preciso encontrar aquele maldito Trompete.

- De outro lado me sinto engessado. O investigador Theodore está na minha cola. O que ele busca, ele nunca encontrará, mas também não posso fazer outras coisas que gostaria porque posso estar sendo vigiado, seguindo.

- Embora esse não pareça ser o estilo dele, com escutas e hacks, os métodos oldschool podem incluir minimamente seguir cada passo. vai saber, né?

- Seria um erro acionar o jurídico da empresa para conseguir uma medida par afastá-lo, isso seria apenas entrar no jogo dele e chamar mais atenção ainda. Eu preciso somente dar de ombros, aguentá-lo e continuar engessado por um tempo.

- Ele tem ligações com a Maçonaria, nesse momento é difícil saber para quem ele está conduzindo o caso, mas é evidente que ele não esconde o que faz, tanto pelo escritório no cartão quanto pelo boton na roupa. Pode ter gente grande nessa parada, até porque o careca era um político. Não quero atenção desses caras.

- Sutileza, essa é a palavra de agora. Por hora devo ocupar meu tempo com a Jéssica.

Eis aqui o “Ponto de partida”, há mais dúvidas que resposta nesse ponto da trama e Víctor caminha cautelosamente entre ser um analista atarefado, um romântico casual e um investidor perspicaz.

O tempo com Jéssica é realmente um parêntese dentro do que aconteceu até agora em Chicago, os amigos dela realmente merecem uma morte com um refino necessário.
Os noivos ganham “pontos de morte” e “sobem de nível” na escala de preferência de Victor. Desprezíveis, superficiais e desnecessários, isso é pouco para descrever esse casal. Começa a crescer a ideia que a morte da dupla faria muito mais sentido.

O tempo a sós com Jéssica vale muito a pena, embora ela sempre mantenha as coisas no lugar sem forçar nada. Perfeito até demais! De volta do passeio romântico, os dois ainda encontram a sessão de fotos perto do fim, chegando assim discretamente, dando a entender por parte dos demais, que sempre estiveram ali.

Vez ou outra, Victor tem sua mente transportada para o Last Saloon Chance, enquanto desatina a pensar, a mente prega uma peça em Victor. A enfadonha sessão de fotos vira palco para uma demonstração de oscilação de personalidade.

O fotógrafo é o próprio Julien, ali diante de seus olhos organizando o ângulo e luz para captar a melhor fotografia do casal. Um projetor que está sendo instalado no ambiente mostra na tela as imagens capturadas. O que se vê é o casal ensanguentado como numa foto da perícia policial.

Julien aponta a lente para Victor e Jéssica, mas na tela aparece Nines. Ele faz um sinal de positivo como se quisesse afirmar que a foto ficou boa.

Na mente de Victor, Teorias hibridas começam a surgir…

Fato #1. O FBI encontra provas contra Roger Temple que é forcado a 'queimar o estoque' para despistar as evidências. Esse fato leva Victor forçadamente a Chicago.

Fato #2. O candidato ao senado, Jordan, ganha uma prévia importante do partido e retorna a Chicago para articular sua campanha ao Senado com apoio de D. Trump, mas o avião tem um probleminha e não caiu por pouco. Victor está na hora certa e no lugar certo e o político morre em um infarto fulminante.

Fato #3. Julien parece ciente da queda do avião, ri de tudo isso e no fim forja uma fuga dos agentes de preto entrando na ambulância sem ser convidado e depois se entrega facilmente. Isso tudo só para deixar uma pista velada e outra falsa.

Fato #4. Decidido a ir ao local na zona perigosa, encontra com John Cock, um taxista bom de papo e gente boa que conhece o local, com um passado lá. Ele não só facilita as coisas para Victor como apresenta Nines.

Tudo isso é casual? Olhando de fora, a mente de Victor começa a se questionar sobre alguns fatos.

*OFF-GAME*
Bem-vindo ao segundo episódio — Teorias híbridas. Victor tem suas impressões e precisa de tempo para digerir as informações. O pessoal do casamento sai para beber e leva Jéssica com eles, um convite é feito ao romântico casual, mas agora o investigador perspicaz pode responder negativamente. O caminho para resposta é uma trilha estreita e cheia de dúvidas.

Me despeço dos demais e retorno ao Hotel. Depois de tomar um banho e colocar uma roupa mais casual, me sento na cadeira da escrivaninha do quarto, puxo minha caneta unipin fine line e começo a rabiscar num papel toalha sobre os 4 fatos que ficaram evidentes.



Ao fim da análise, amasso o papel, coloco no bolso e decido retornar ao Last Chance. Ponho uma caixa de fósforo no bolso da camisa, fecho o quarto e sigo para a rua.

Não pegarei táxi na porta do hotel. Seguirei caminhando até ter certeza que estou seguro e longe dos olhares que cercam o hotel, não quero ser seguido, muito menos conduzido por um John Cock da vida. Talvez não estejam esperando meu retorno imediato.

Se tudo der certo, pegarei um táxi para o Last Chance e sentarei numa mesa afastada sem chamar a atenção. Minha jaqueta jeans e o boné cinza me tornam quase indistinto entre os demais demais.

VEIO DE: Last Chance Saloon

RESUMO DO GAME NA MESA

Eu, Strucker e Diana seguimos com a reunião, como a mãe, o pai e o filho trocado na maternidade e recém descoberto.

Strucker contou que ele e Diana foram designados para matar o Julien e falharam. Como o popstar ficou distante, em New York, eles deixaram o caso como estava achando que não fosse dar problema depois, mas deu!

Eu acredito que Diana influenciou Strucker a não matar seu pupilo e que na verdade Julien não fugiu, foi deixado para fugir. Só que não imaginavam a reviravolta. Talvez isso explique a calmaria e serenidade dos dois na mesa.

Ocorre que, agora os chefões deles querem a cabeça dos dois no prato se EU, alvo calculado de Julien, não me aliar ao grupo, por assim dizer. Nada disso enche meus olhos eu só gosto de ver as coisas acontecerem. Eu posso abusar da história amanhã. Mas estou gostando.

Ainda não ficou claro qual o MEU valor nisso, mas como eu já disse, a história é interessante e isso chamou minha atenção.

O resto do papo de Strucker sobre batman e coringa, sobre não fazer o que o que outro achou que você faria, é irrelevante. Até porque talvez sejam dois coringas nessa história. Será que EU adoraria acionar mesmo o detonador do barco?! seria bem interessante, não? acho que eu detonaria.

Diana parece carregar uma culpa, esse talvez seja seu ponto de maior força e maior fraqueza, mas EU não costumo subestimar as pessoas. Só não me importo.

Fora isso teve uns papos de décadas, milênios, mortais, habilidades especiais e outras coisas que eu não entendi caceta alguma, mas confesso que me amarrei na conversa. Tanto faz se for verdade ou mentira, eu vou fazer de conta que é verdade.

Não estou debochado ou fazendo pouco caso do perigo, por favor, não me entenda mal. O perigo está ai e é real. Talvez eu faça pouco caso de mim mesmo, quem sabe?!

E o Julien? Ah, o desgraçado é um desgraçado! OPA, errei a piada!
Ah, o desgraçado é um gênio!! Confesso que queria muito conhecer esse maligno filho da puta brilhante. E sabe o mais? Se eu precisasse refazer o voo naquele avião - mas agora sabendo de tudo isso - eu embarcaria novamente! Sim, faria tudo de novo, mesmo sabendo do perigo gigantesco da colisão com a aeronave.

O que afeição pelo Julien? Ah, vamos, por favor, não me entenda mal, você é mais inteligente que isso!
Eu não tenho afeição por ninguém, Julien não é alguém pra mim, é apenas uma ideia, uma estrada, uma escada ou só um abismo de loucura.

Mas não importa, eu decidi ir com o papai e a mamãe. Eles querem cuidar de mim. Papai Strucker e mamãe Diana. Vou ter um pai e uma mãe, nunca tive, não sei como é essa experiência maravilhosa. Mas... eles não vão estar sempre comigo, eles não vão estar todo dia comigo. Serão pais ausentes, como sempre, como os outros! Malditos!

Tenho um ataque de fúria, quero algumas coisas dentro do meu quarto, dou alguns gritos, rasgo minha camisa, soco minha própria cara no reflexo do espelho, algumas lágrimas escorrem pelo meu rosto e mancham minha cara suja e suada.

eu me recomponho, pego um pente e arrumo o cabelo, estou sorrindo pra mim no espelho.

A mamãe disse que ia estar sempre me observando e o papai disse que ia estar próximo a mim me protegendo para que nada de mal aconteça comigo.

É MENTIIIIRA!!!!! volto a ficar louco e quebrar tudo novamente.

Depois de um tempo, sento na beira da cama. Calmo, intuitivo, conectando os pensamentos novamente. Os reflexos da minha família maldita que me assolam desde a minha infortuna existência me deixam completamente e eu consigo pensar com clareza.

Antes até do esperado, a Nines se juntou à nós na mesa. A Nines verdadeira e única Nines de muito antes de 1920. Que loucura!

A postura de Nines foi completamente oposta àquela apresentada quando nos conhecemos. No nosso primeiro encontro, Nines foi extremamente elegante, atenciosa e doce. No segundo encontro ela foi, imponente, firme, ríspida, direito ao ponto, decisiva e nem de longe me deu qualquer tipo de cumprimento, me tratou como se eu nem estivesse ali. Fui tratado como objeto, fui tratado como moeda de troca. A mim nem foi dada, por ela, a chance de escolher um lado. Ela deixou evidente que o Julien é inegociável e entre outros acertos me colocaria dentro do bolo pra negócio.

Sabe o que eu acho disso? INCRÍVEL! Incrível porque ela foi verdadeira comigo desde nosso primeiro encontro. NA sala pessoal dela, ela me disse que era assim, desse jeito, forte, dura, que protegia as coisas dela. Logo, a atitude dela foi completamente condizente com aquilo que ela me apresentou no nosso primeiro encontro. Ela foi fiel às suas próprias palavras. Que intenso!!

Julien e Nines tem muita profundidade, embora eu deva concordar com Diana que o Julien não perderá sua essência e em breve fará com a Nines o mesmo que fez com a Diana.

Eu não vi tanta profundidade em Strucker e Diana, mas vi boas histórias, mistérios e algumas propostas. Vi algo bem curioso que talvez eu queria conhecer. Foi apresentado diante de mim a possibilidade de embarcar numa aventura completamente desconhecida, perigosamente desconhecida. E o que eu fiz? Ora, o que qualquer louco faria, "topei na merma da hora"!

Infelizmente não tive a oportunidade de conversar com tamanha franqueza com o Julien e a Nines, se assim o tivesse feito, minhas escolhas poderiam ser diferentes, mas essa jornada ta só começando.

Me despedi do Last Chance Saloon ainda com duas caixas de fósforo no bolso da jaqueta. Talvez nunca mais eu volte lá ou, já que minha nova jornada teve início lá, por assim dizer, quem sabe também tenha fim por lá. Seria glorioso, disso tenho certeza.

Agora tenho que me concentrar no Roger Temple, numa festa de casamento, na Jéssica Hickmann e no resto da escória imunda, porque amanhã... ALGUÉM VAI MORRER!

FIM DO CAPÍTULO 1

Aquela noite passou voando, mesmo com tanta coisa na cabeça de Victor para pensar, o cansaço o venceu e vencido ele adormeceu como Morfeu. Jogado no fundo da cama, afundando como uma pedra no fundo do rio, indo em direção ao além como um asteroide.

Os olhos se abrem, o local é pouco familiar, um depósito? Sujo e cheio de quinquilharias e coisas cobertas por uma lona de caminhão, sempre grossa, suja, empoeirada e marrom. No centro uma luminária traz um foco de luz curto e limitado, há duas cadeiras e uma delas tem alguém.

Ofuscado pela luz, o rosto da pessoa não se forma completamente, mas no interior de Victor, em seu subconsciente, é Jullien a imagem que ele vê. Mais alguns passos e olha só, o maldito Jullien. Sentado na cadeira tragando um cigarro. Ele puxa uma tragada cavernosa mesmo, e expeli mais CO₂ que um trator de esteira.

Ele empurra com um pé a outra cadeira e faz um sinal indicando para que sente usando a mão que carrega o careta.

— Senta aí, parceiro! Quero levar um papo contigo, e só achei esse lugar que considerei seguro pra não ter bronca!

O inglês dele é meio incorreto mesmo, um linguajar carregado de gírias da rua, ou só falta de gramática.

O sobretudo dele é meio estrupidado, mas tem estilo, anéis de prata em vários dedos, o visual dele é de um roqueiro dos anos 80.

A luz gera três sombras quando Victor se aproxima, a sombra de fato é um fenômeno que tem várias explicações. A sombra é a medida do corpo com relação à luz projetada sobre ele. Assim, a luz mediu Victor como três.

Me perdi em devaneios e adormeci como alguém que morre numa colisão frontal, não dá tempo de entender ou sentir.

Mas de repente eu já não estou mais dormindo, estou num depósito velho, acho que são coisas da minha família, mas não consigo ter certeza.

No centro das coisas abandonadas e empoeiradas está uma luminária com uma luz baixa direcionada à duas cadeiras e em uma delas está o meu arrombado favorito, Julien du Metal!!! fumando mais que a desgraça em dia de cachaçada.

Ele diz pra eu sentar e fala que só conseguiu esse lugar seguro pra falar comigo. Sem esperar muito eu me aproximo, mas.. Perae! Espera! observo que tem três sombras a partir do meu corpo e somente um ponto de luz. Olho intrigado para as três sombras. Já aconteceram coisas demais comigo, não vou me profundar no que eu estou vendo, afinal me parece óbvio que nada disso é real. Ignoro as sombras e continuo o caminho até sentar na cadeira.

- Porra, tu não me deixa nem dormir?! O que foi agora? O plano desandou e a S.I. apareceu? eu falo com a normalidade de quem entende mesmo sem entender.

Jullien puxa uma tragada forte, profunda e envia um olhar sagaz para Victor. Cruza as pernas e fixa o olhar, como um leopardo que encontrou uma carne fresca de algum filhote de bichos da áfrica por aí vacilando.

— Se você acredita que foi isso que aconteceu, como posso dizer que o plano desandou? É verdade para você, então sua mente o tornou real e a realidade é contagiante parceiro.

A fumaça sai espessa e disforme, mas essa deformidade traz uma forma. É possível ser um efeito do sonho, mas a forma abre uma tela para que imagens sejam projetadas.

— Eu não tenho a intensão de atrapalhar tua evolução, na verdade, é hora de você seguir sozinho e cair, levantar e seguir em frente, parte do aprendizado. Nem vim aqui comentar sobre sua decisão, é tudo seu, porra, é isso.

Ele se levanta, arruma a roupa e os trapos, na verdade, parece estar se preparando para sair, mas, por um instante, tateia os bolsos e procura algo. Coloca cigarro na boca e libera a outra mão. Jullien então se aproxima de você e, como um mágico de festa infantil, puxa uma moeda escondida atrás de sua orelha.

— Hora da mágica começar, deixa fluir, segue teus instintos, bota pra fuder, se vira! Te espero no ponto de chegada!

Ele pega na mão de Victor e coloca a moeda no centro dela e fecha-a, e começa a sair andando em direção oposta a luz.

A tela projeta Strucker e Diana caricaturados, animações grotescas, que se movem como um gif. Chorando e depois um sorvete atinge a cabeça de Strucker e Diana começa a sorrir, todos riem. A cena se repete e se repete.
A fumaça se esvai aos poucos.