Last Chance Saloon

A vizinhança violenta ao redor não interfere no interior do santuário do Jazz no Last Chance Saloon, sob as ordens de Nines, a recepção a Victor ficou além das melhores expectativas.

O nome Nines tem um peso histórico, um escravo que mudou de vida ao vencer uma mão de pôquer, pelo menos é o que a história conta. Talvez um excesso de romantismo da parte envolvida, o velho John Cock, mas isso já são outros detalhes.

A figura de Nines, a foto de Julien na parede são pequenos indícios que há algo mais por trás dessa recepção amigável, ou não!

O retorno de Victor é discreto e camuflado por um solista de trompete acompanhado por um piano suave que faz o Jazz preencher o bar, a fumaça densa dos cigarros eletrônicos e o excesso de whisky povoa o ambiente, o público é jovem em sua maioria, mulheres. Os homens no recinto são quase sempre solitários, solteirões ou grupo de amigos.

As paredes de tijolo maciço com uma pintura envernizada, as poltronas em couro revestido com um tom vermelho antigo e desbotado, a estrutura rustica de um galpão adaptado por um escravo sortudo em um bar que o tempo e a cultura ajudaram a conservar. As áreas superiores e interiores guardam mais segredos, mas ficam inacessíveis a primeira vista.

Uma garçonete traz um menu, opções de drinks e até o prato especial que Victor já provou. A mulher branca está com suor na testa e seu cabelos preto e maquiagem seguram um sorriso cativante. Ela menciona que pode chamar se preciso e pega uma caneta e anota numa comanda o número da mesa e então aguarda um pedido imediato.

Enquanto ele completa o atendimento, uma mulher de pele cor de canela, com cabelos grisalhos e óculos de grau, segurando uma pasta, entra no ambiente observando para todos os lados, forçando a visão. Ela cruza o ambiente até parar e virar procurando claramente um local ou pessoa específica. Não aparenta ser tão jovem, embora tenha uma pele e estilo que chamam atenção.

A garçonete então faz a pergunta:
- Quer começar com um duplo de whisky ou só um 'Bud'?

*Off-game* teste de Força de vontade atual, contra dificuldade 3.

Chego tranquilo ao interior do santuário do Blues no Last Chance Saloon. Sinto que pareço ter uma fita vermelha amarrada ao pescoço que me permite passar sem ser completamente esmagado pela atmosfera violenta do bairro.

Meu retorno é discreto, não quero chamar a atenção. O clima do bar parece ter 4 décadas para trás. Os músicos parecem tocar o Blues para eles mesmos apreciarem, como se estivessem sozinhos no meio do nada. O cheiro no ar é carregado de um uisque qualquer de 12 anos com notas de carvalho, canela, gengibre e alguma fruta cítrica. A visão chega a ensaiar um turvo fraco pelo vapor e fumaça dos vários cigarros dentro do ambiente. O bar tem muitas mulheres, isso se daria pela admiração à Nines? é provável. Pelo menos o risco de um quebra quebra reduziu em 63%.

Uma garçonete simpática se aproxima e me entrega o menu, vou enrolar aqui e depois eu peço qualquer besteira.

Uma outra mulher entra no bar. Essa me chama a atenção. Pele cor de canela, cabelos grisalhos, óculos de grau, pasta na mão, uma combinação totalmente fora do padrão dessa noite. Ela parece procurar alguém.

A garçonete interrompe minha análise com alguma pergunta, mas não tenho tempo de responder porque algo está errado. Me sinto pesadamente drogado, desacelerado. Uma distorção nos sons do ambiente provoca uma alteração brutal na minha visão e audição. Como o som distorcido pode alterar minha visão? Isso é realmente incrível.

A garçonete se move em câmera lenta como um borrão disforme de imagens turvas, a luz desfoca e esmaece, o som ganha eco e distorção.

Degusto cada pixel de alteração sensorial dentro daquele gigantesco cosmos que se forma na minha frente.

Mas o que é tudo isso? O desconhecido agora se torna conhecido?

Uma voz feminina em alto e bom som fala como se estivesse ao meu lado. "- Bem-vindo à noite!"

Não viro a cabeça para o lado que ecoa a voz, mesmo assim respondo, em alto e bom tom, acreditando que não estou ficando louco.

- A pergunta mais obvia seria "O que é tudo isso", mas outra coisa me chamou a atenção. O termo Bem Vindo é um tipo de saudação destinada a apresentar uma pessoa a um "novo lugar" ou "situação" e fazê-la sentir-se à vontade. Então a pergunta é: Como você sabia que eu estaria à vontade?

- Ambos sabemos que não estou sendo apresentado à um "novo lugar" porque já estive aqui antes, dito isto, sobra apenas a "situação", então, o seu "Bem vindo" indica que estou sendo apresentado à uma nova situação, o que me leva à próxima pergunta: Qual situação?

(O efeito do resultado da jogada foi inserido no texto com autorização do narrador)

O tempo simplesmente para de uma vez por todas para todas as outras pessoas, menos para Victor. Congelados ali, o detalhe do rosto da garçonete fica mais evidente, a bochecha do trompetista levando o ar dos pulmões que ao passar pelo instrumento de metal transformará o oxigênio em som carregado de um legado racial e cultural com significado e cor.

A fumaça dos cigarros formam desenhos e borrões, o cabelo grisalho da mulher parado no ar deixando seu movimento agora estático, a luz do palco iluminando o ambiente, as sombras das pessoas projetadas sobre a parede criando um decalque de um rosto, no estilo de um desenho animado de Tim Burton.

— Você será apresentado a outras pessoas, que o conhecem, admiram e o odeiam em um equilíbrio tênue e que hoje vai se tornar mais enfático, esses anos de distância entre vocês só acabam por prejudicá-los.

O tom de voz é doce e calmo, não parece impor uma imperatividade ou ardilosidade nas entrelinhas. O efeito de ter dois sentidos limitados é o aumento da percepção dos demais, então seu olfato se torna mais acurado, os detalhes da composição do whisky são evidencias dessa constatação.

— O que é tudo isso, você pergunta? A resposta é, isto é um encontro. E vim aqui lhe apresentar duas pessoas e me apresentar. Você já deve suspeitar quem sou eu, não é mesmo Victor?

A fragrância invade a narina de Victor, aromas de pera, gengibre, baunilha, menta levemente amassada por carvalho podem ser sentidos com maior intensidade.

*Off-game* Teste de Autocontrole + Percepção, dificuldade 2. Sucesso no teste localizará a fonte do cheiro.

E o tempo parou.

Permito que essa sensação invada cada célula do meu corpo. Um momento ímpar, e eu vou apreciar no mais alto grau de refino que puder, como a elegância da iminente chegada da morte.

A garçonete em toda sua formosura parece uma estátua do filme a casa de cera implorando a mim que passe os dedos por seu rosto, suavemente, até arrancar, lentamente, pedaços de sua carne expondo dentes, ossos, músculos e nervos. (igual a cena do filme a casa de cera)

Os músicos estão a ponto de explodirem com suas expressões marcadas pela pressão de ar exercida contra o instrumento musical, a fumaça dos cigarros parece arte de pintura criada em um cubo de resina acrílica.

Um cheiro de flor silvestre surge por debaixo dos cabelos grisalhos, cacheados e estáticos daquela que havia acabado de entrar no bar. Todo o ambiente parecia ter sido tomado por sombras projetadas nas paredes dando um ar adoravelmente macabro.

Sinto meus sentidos se aguçarem, quase posso sentir cheiro de alguma ferida, sangue e doença que se alastra no corpo de alguém no ambiente. (med3)

A voz fala sobre outras pessoas, sobre algo como amor e ódio, mas não me parece ruim, afinal, um não pode existir sem o outro, tudo perderia o sentido.
O tom da voz dela é doce e calmo como um barquinho solitário que balança levemente no mar à caminho da morte lenta e inevitável.

Estou alerta e comprometido. Estou ciente de onde estou e de quem está ao meu redor. Estou atento. Agora me concentro no essencial e permaneço alheio a todo o resto. Não sei o que o futuro reserva, mas isso não me preocupa.

— Sim, Nines. Quero conhecê-los, todos. Você, o Julien e a flor silvestre.
Minha voz é clara e tranquila.
Chamo ela de Nines, identifico os demais e não tenho a menor dúvida sobre isso. Falo com tamnha segurança que posso parecer soberbo.

— Creio que esses anos de distância sejam insuperáveis. Eu não teria como estar com o Julien em 1987, nem com você em 1920.

Como se eu entendesse, arisco falar sobre o que não entendo.

(efeito da jogada já inserido no texto)

As formas próximas assumem um padrão mais inteligível, ainda que tudo que esteja distante se mantenha um vislumbre embaçado e com poucas formas, tal qual a visão de um míope. As alterações nos sentidos da visão e audição são entendidas por Victor da mesma forma que alguém acostuma a visão com a escuridão do quarto e lentamente vai adquirindo as formas das coisas.

E desse universo distante e turvo uma forma vai ganhando detalhes até saltar para fora da penumbra da dúvida e traz consigo uma silhueta masculina. Bem alinhado com cortes finos e personalizados, uma gola rolê sem exagero para dar um ar de cultura e conhecimento de moda sem se tornar brega.

A armação dos óculos e cabelos em um tom natural que parecem ser criados um para o outro, um homem que inspira gentileza e educação, delicadeza e sofisticação, inteligencia e elegância.


Ele carrega uma confiança no olhar, mas sem ser presunçoso, e surge pelo flanco direito indo para esquerda, parece saber que assim é mais agradável aos olhos. Observa Victor e o ambiente próximo e seu entorno, ajeitando a manga do blazer e soltando um botão, o último de cima para baixo, e se projetando para sentar a cadeira vaga.

O tempo parece voltar a seguir, como se nada tivesse acontecido, a garçonete, a música, as pessoas, a fumaça, as sombras, o cabelo grisalho da mulher cor de canela. O homem senta a mesa e diz respondendo à pergunta da garçonete há alguns segundos.

— Sim, por favor! Duas “bud” estupidamente geladas e peça para a banda tocar Phil Harper, sei que esse trompetista tem talento para impressionar a plateia.

Ele se ajeita na cadeira e antes que Victor possa reagir, fato que seus sentidos continuam se recobrando lentamente, a garçonete apenas anota e deixa no ar um flerte cativante no ar seguido por um suspiro característico.

Fui surpreendido. Tudo acontece magicamente de forma que eu jamais poderia prever. Me sinto eufórico. O homem agora ao meu lado não é Nines ou Julien e seu estilo peculiar destoa completamente dos padrões locais. O refino contrasta com a comunicação verbal com a garçonete.

Meus sentidos vão se realinhando lentamente. Volto a me acostumar com o som e a iluminação do ambiente. O home agora está confortavelmente sentado ao meu lado perfeitamente encaixado ao ambiente.

- O prato da casa é excelente.

Inicio um diálogo.

Segue o diálogo

— Posso presumir, que nossa reunião, encontro, ou como possa chamar isso que está acontecendo não foi por acaso. Desta forma, não posso prever quanto tempo pode durar. Não tem como dizer isso sem soar exagero, então vamos lá. Muito prazer, meu amigo me chamo Riley Fitzgerald, ou como gosto de ser chamado, Fitz.

O homem apoia o antebraço direito sobre a mesa e inclina levemente o corpo para frente. Ao terminar a frase, ele geste levemente com a mão esquerda, passando o polegar na barba. Ele aproveita esse movimento para virar o rosto, como se certificasse de que não há ninguém atento a esta conversa.

O cara que se apresenta como Fitz diz que não sabe quanto tempo nossa “reunião” pode durar. Em qualquer outra situação isso poderia soar estranho, mas nesse contexto o tempo se torna relativo. Ok, vamos lá.

- Já percebi que o tempo aqui é o menos importante. Do que se trata nossa reunião?

Me posiciono confortavelmente na cadeira. Observo o ambiente ao redor captando detalhes importantes.

A conversa continua…

— Fui trazido aqui por uma mulher, não conhecia o local, mas ela afirma que conheço você, pelo menos de nome. Ela deixou a entender que nos conhecemos, talvez de alguma parte do passado, dificilmente eu esqueceria, acho que ela cometeu um erro.

Fitz para um pouco a conversa, ele deixa sempre um ar de mistério no ar, brinca com as ações e tenta conduzir de forma sutil.


— Antes que pergunte, ela se chama Diana Stone. Você conhece esta pessoa?

- Você tá me dizendo que uma mulher te trouxe até aqui porque ela acha que você me conhece? Qual a importância disso? conhecemos centenas de pessoas assim, de vista, de nome, de embarque, de trabalho, de atendimento etc.

- Meu é Victor Sinclair, você já ouviu falar esse nome? porque deveríamos nos conhecer?

Ele fala sobre passado, mas não posso afirmar e muito menos negar, afinal de contas ele não parece estranho. O olhar dele não é estranho. O queixo dele é familiar, os traços do rosto são bem familiares. Será um parente? um irmão que nunca conheci? caralho, ele parece um pouco comigo.

Me perco nos pensamentos, mas sei exatamente o que sinto agora.

Eu apoio o meu antebraço direito sobre a mesa e inclino levemente meu corpo para frente.

- Não conheço nenhuma Diana Stone.
Ao terminar a frase, eu ergo levemente minha mão esquerda, passando o polegar na minha barba.

- Quem seria ela?

playlist da banda:

Por um momento, Fitz também se questiona sobre os fatos ocorridos até aqui, ele poderia facilmente estar se perguntando se tudo isso faz sentido. Seu semblante é que quem está tão surpreso quanto Victor.

— A Dr.ª Diana Stone me convenceu que te conhece de Nova Iorque, falou sobre a morte dos seus pais e do seu trabalho na empresa de seguros.

Fitz gesticula fazendo movimentos circulares com as mãos e mantendo o queixo sempre a noventa graus ou mais, mas nunca menos que isso.

— Eu e você devíamos nos encontrar aqui, tem outra pessoa que precisamos conhecer…

Ele esboça uma fisionomia de quem desvendou um mistério, como se algo fosse elucidado em meio a tantas dúvidas.

— Mas é estranho, porque muitas vezes, no intuito de conduzir-nos até a destruição, os instrumentos de Satã contam-nos verdades, cativam-nos com insignificâncias claramente honestas, só para trair-nos em consequências as mais profundas.

Ele solta um profundo e pesado suspiro após mandar essas palavras para fora de sua boca. E observa os detalhes em seu rosto como se constatasse alguma semelhança física, um grau de parentesco talvez?

— É Macbeth! Ela citou Macbeth para mim, usou essa frase na primeira vez que a conheci.

A garçonete interrompe o momento, quebrando o fluxo fluente de informações descontextualizadas e limitando-se a falar o óbvio.

— Duas 'Buds”, uma para você e outra para você!

Finalizando sua participação com um sorriso cativante.

Meus pensamentos divagam.
Agora ele chamou de doutora.
Doutora Diana.
Nova Iorque.
Meus pais.
Meu trabalho.
Essa Diana sabe demais.

— Certamente com esse nível todo de detalhe eu reconheceria a pessoa até se eu estivesse drogado. E é aí que tá o problema. Eu não conheço essa mulher e ela sabe demais. Um coisa não bate com a outra, entende?!

Levo meu corpo todo para trás até encostar totalmente na cadeira. Deixo os braços alinhados com a altura da mesa e fico tamborilando os dedos na beirada da mesa e no ritmo da música.

— Por que me rendo a tal sugestão, cuja horrível imagem descabela-me e incita meu coração sereno a escoicear minhas costelas, contra os costumes da Natureza?

Enquanto falo, eu gesticulo fazendo movimentos circulares com minhas mãos, mantendo meu queixo sempre a noventa graus ou mais.

— Os temores do presente são menores que as horríveis figuras da imaginação. Meu pensamento, este que em si acolhe um assassínio não mais que fantasioso, sacode de tal maneira o reino de minha condição humana e única, que toda ação fica asfixiada em conjeturas, e nada mais existe, a não ser o que não existe.

Meu olhar fica distante.

— Han, perdão. Nem sei porque eu disse isso.

Começo a me sentir estranho, tenho pensamentos diferentes, sensações diferentes, estou nauseado. Alguém estava me observando? Não pode ser verdade. Sempre segui todas as instruções corretas. É impossível. O único capaz de saber tanto assim sou eu mesmo.

Sou arrancado dos devaneios e trazido de volta ao bar pela cativante garçonete.

— Obrigado, moça.

Pego a Budweiser e deixo próximo a mim, mas ainda não bebo.

— Precisamos de verdade conhecer outra pessoa? Você precisa conhecer? Porque você precisa? Você acredita que precisa? Porque eu preciso? Quem é a outra pessoa que precisamos conhecer? Qual o objetivo disso tudo?

Questiono olhando diretamente para Fitzgerald. Um pequeno sorriso se forma no canto da minha boca seguido de um desvio de olhar com sutil desdém.

— Isso não parece ser claro a você e muito menos à mim. Com todo respeito, senhor Fitzgerald, você está sendo levado a acreditar que há algum propósito nisso tudo, mas toda essa história é tão profunda quanto um pires.

Tento desacreditar, descontruir, inserir a dúvida. Ele não parece convencido das próprias palavras. Se isso não for sólido vai ruir com pouco veneno, mas se for firme o veneno revelará. Palavras são veneno.

Minha linguagem corporal não é cética e nem crédula. Sou apenas muito seguro dentro de um grande vazio.

Fitz não chega a tocar na cerveja, a longneck fica ali suada se despindo como uma stripper no pole dance, ignorada ela deixa cair uma gota que escorre pela superfície de vidro até tocar a base da mesa.

- Sei que tem coisa errada aí e acolá, mas se chegamos até aqui, vamos desvendar esse segredo juntos, essa trama, seja lá o que isso for.

Os dedos de Fitz tocam a garrafa, um carinho tímido, ele percebe o líquido em seu dedo em contato com o vidro. Como uma preliminar, ele desliza a mão vagarosamente tateando até encontrar um ponto específico, então ele a segura com força e a traz para si, o líquido alcoólico lá dentro se ajeita para despejar de uma só vez uma porção o prazer em forma de bebida.

— Humm!

A onomatopeia escapa dos lábios antes mesmo do fim da primeira golada, trazendo precocemente a satisfação eminente para um momento confuso que só fica pior e pior.


Irrompendo o deleite da degustação etílica, de certa forma alcoólica, surge uma figura autêntica. O cheiro de suor e perfume barato se mistura com o odor que a roupa carrega, uma mistura de couro sintético com poliéster velho e desgastado. O cabelo desarrumado implica que veio de moto sem capacete, ou só não tem o hábito de se pentear adequadamente.

- Ok meninas! Desculpem o atraso, mas o trânsito não está fácil hoje. Ainda bem que começaram sem mim.

Ele se intromete sem pedir licença com seu dedo indicador apontando para Fitz e fazendo um movimento semi-circular até Victor.

- Eu me chamo Mark, e estou aqui pra explicar o que está acontecendo.

O Riley não caiu na minha provocação e só me deu uma resposta genérica. Não vai adiantar esse meu joguinho, ele só está me levando no papo até o momento que ele precisar me segurar aqui.

Vejo ele se decidindo até realmente pegar a cerveja e dar uma golada.

A interrupção veio junto com o terceiro "convidado" que é bem parecido, digamos, ao primeiro ou, a todos nós.

- taquipariu!!

solto meu xingamento padrão de paciência fodida num dia de trabalho chato.

Encosto o cotovelo no canto da mesa e dou aquela massageada nos olhos com o indicador e o polegar, antes de olhar o retardatário que já se apresentou e agora está apontando o dedo pra mim.

Com a mão que estava trabalhando, faço um movimento de "E aí?" com a palma da mão aberta para cima.

- Prossiga..

- Mark.

Mark avalia os demais, ele observa os detalhes tirando suas próprias conclusões.

— Olha só, vocês dois, eu, todos aqui não estão envolvidos em nenhum grande esquema, não há uma grande corporação para monitorar seu café da manhã ou segui-lo até o hotel.

Ele tateia os próprios bolsos de onde puxa um dispositivo eletrônico com nicotina em sua essência de cappuccino, uma luz se acende enquanto ele puxa uma super tragada que enevoa toda a mesa, e segue com sua dialética. Articulando e movimentando seus membros em movimentos circulares, seus anéis, três da mão direita e mais dois na esquerda, revelam unhas ruidas e outras com sujeira.

— Essa é a grande verdade! Uma mulher, a Dr.ª Diana, ele pegou nossos prontuários, leu tudo sobre nós e articulou uma ideia na cabeça dodói dela, um mundo psicodélico que você só chega se comer muitos cogumelos.

A fumaça mal chega a se dissipar e ele puxa outra tragada considerada, um pessoal da mesa ao lado já começa a se incomodar, o cara mais parece uma chaminé ou trem antigo.

— Para ela, em suas conclusões, dois de nós não somos reais. Ela só está interessada na sua tese de pós-doutorado em Harvard ou Cambridge, sei lá. Ela usa ativos sintéticos e anfetamina para “induzir” as experiências, misturados com álcool isso ganha outra dimensão e leva a eventos de esquizofrenia, fuga da realidade e essas coisas que só tarja preta resolve.

A mente de Victor tenta processar tanta informação, ele assimila o que é relevante, avaliando cada palavra, seus sentidos, pelo menos o olfato é assertivo, duas aspiradas no ar, sabe aquela aspirada que você dá quando chega em casa e tem comida quente sendo preparada? Desse jeito.

Lá está ela, parada ali com sua beleza exótica, seus cabelos grisalhos chamam tanto atenção e destoam das nuances da paleta de cores do Last Chance Saloon que fica quase que impossível falhar em um teste para detectá-la.

Há um homem perto, ele está de costa, e é uma baita dorsal, coisa de anos de academia com certeza, um loiro moicano estilo estivador com grana, certamente deve está aplicando um papo na coroa, mas ele não sabe que hoje o motivo de estar aqui é para ver Victor.

Os olhos da mulher estão arregalados, ouviu alguma coisa grosseira, chula, de baixo escalão, ou só uma cantada de pedreiro, uma frase feita sem efeito, ou mais do mesmo. O homem parado ali não desiste, da para perceber que ele está movendo seu maxilar.

O cheiro de creme de barbear e corpo se misturam com o cheiro de pólvora. Pólvora? Sim, pode ser um erro do olfato, mas há um cheiro de pólvora disfarçado nesse cara.

— Claro que já vi esta mulher, eu já busquei tudo que podia sobre ela, e este não é o nome verdadeiro dela, é um pseudônimo, algo do tipo.

Mark fala isso enquanto Victor faz sua busca e divide seu tempo entre cheirar e pesquisar. Aparentemente só há artigos científicos e laudas e laudas de muito termo técnico e coisas para se aprofundar, mas nenhuma foto.

— Segui ela até aqui, fiz meu dever de casa, mas essa área não é para qualquer um, tem que ter certos privilégios para abrir certas portas, se é que me entende.

- Ali!

Achei ela, mas tem um cara grandão tentando agarrar. Tão grande que parece um alvo, seria difícil errar um tiro até de olhos fechados. Han?? Oh, shit!! Pólvora!! Ele acabou de fazer alguns disparos. Preciso afastá-lo com inteligência.

Saco do meu coldre, vejo se está carregada e em seguida miro. Depois de sacar a caneta, verificar se está carregada com tinta e depois de mirar no porta guardanapos, pego uma folha de guardanapo e começo a escrever um bilhete para a garçonete.

Para garçonete - escreveu:

Linda, Pode me fazer uma gentileza? Entregue para o loirão naquela mesa?

Nessa parte eu escrevo detalhadamente as descrições do homem e do local que ele está para não haver erros.

Pego uma segunda folha de guardanapo para escrever outro bilhete, mas antes, olho novamente todo ambiente e procuro por uma mesa distante da mesa deles, que tenha várias garotas que estejam bebendo, fumando e dando gargalhadas. Depois de escolher, passo a escrever:

Para o loiro - escreveu:

Acho que você ainda não escolheu o lugar certo pra sua noite. Quer sentar com a gente?

Nesse bilhete convido o Loirão a se juntar a “nós” e indico o local da “nossa” mesa.

E agora vou agir em quatro atos:

1. Primeiro ato, Pego o bilhete para ele boto no bolso direito da jaqueta, o bilhete para ela coloco no bolso esquerdo junto de algumas moedas. Me levanto e saio discretamente andando pelo bar.
   
2. Segundo ato, vou passar pela parte do balcão em que garçonete sempre está para trocar copos, bandeja, pegar cerveja, pratos etc, no momento em que ela não estiver por lá.
   
3. Terceiro ato, puxo o bilhete do bolso direito e ponho sobre o balcão, seguido do bilhete do bolso esquerdo junto com as moedas e ponho no balcão, um sobre o outro. Moedas, bilhete para a garçonete e bilhete para o homem, ficando assim dispostos, de cima para baixo.
   
4. Quarto ato, pego um copo, saio de lá, sigo andando com voltas maiores até retornar para a mesa com Fitz e Mark.
   

Estou pronto, guardo a caneta.

- Senhores, já volto.

E agora parto para a execução.

(Mestre, Victor vai executar o plano nos moldes descritos em cada ato. O objetivo é claro, Victor precisa afastar o cara para ter contato com a mulher.)

O levantar e seguir de Victor é seguido por uma tontura não comum, um passo em falso, um desequilíbrio inesperado.

*Off-game* Teste simples de Vigor, dificuldade 2. O resultado do teste não impedirá que Victor siga em frente, mas representará como ele foi; no caso de sucesso, o "passamento" foi ligeiro e pontual, mas perceptível; uma falha aqui pode implicar em um caminhar desalinhado, esbarrando nas pessoas ao caminho ou uma falha na percepção espacial.

Seguindo em frente...

Aproximando-se do balcão fica mais claro a situação, a doutora está levando um baita calor do cara grande, forte e louro. Dois metros ou pouco mais, esse cara ocupa bastante espaço e chama a atenção onde quer que vá.


Uma bandeja com um drink vermelho na parte superior e amarelo no fundo, certamente um Garibaldi feito com Campari e fatias de laranja e talvez uma mistura com outra bebida, está a postos para sair do bar, momento perfeito para executar o ato 2 e 3 rapidamente.

*Off-game* O ato 4 vai ser impactado pelo resultado do teste no vigor, porém o efeito não será constante, durará apenas um post que vamos entender como um turno.

Executando Teste simples de Vigor, dificuldade 2

Victor Sinclair efetuou 2 lançamento(s) de dados Dados normais :

,

Resultado: um sucesso crítico e uma falha.
Vou re-rolar o dado de falha usando força de vontade

Victor Sinclair efetuou 1 lançamento(s) de dados Dados normais :

Dou início ao primeiro ato e me levanto para seguir com a execução do plano, mas noto que há alguma coisa errada.

Sinto uma tontura incomum, mas não estou doente, não ingeri nada aqui. Minha pisada não está firme, parece que entre um passo e outro eu piso em falso causando um desequilíbrio inesperado. Não parece haver um problema com minhas pernas, acho que o chão está empenado ou formando ondas sutis em cada passada que eu dou, como se eu estivesse caminhando sobre uma plataforma de plástico flutuando no meio do mar. Parece que nada disso está acontecendo de verdade. Nada é real? tudo está na minha cabeça? estou enlouquecendo? Estou me jogando na minha própria loucura.
O segundo ato que era basicamente andar até o balcão foi maculado por algum fator externo e desconhecido, mas sem prejuízos.

Me aproximo do balcão e vejo que a mulher precisa de ajuda pra fugir do grandalhão que, a propósito, parece ser capaz de dar conta de todo mundo no bar em menos de 2 minutos.
Muito embora isso seja uma verdade clara, mais claro ainda é a fraqueza dele por uma buceta, e é exatamente por isso vou mandar ele para uma mesa que tem logo é seis bucetas!! essa é a Prikitonita do superman aí!
A vantagem do rato em relação às vitimas do psicopata, é que ele sempre sabe quem é o gato.

O próximo ato é o mais importante e eu não vou precisar das pernas pra isso. Chego no balcão e sou rápido para executar o terceiro ato. Minhas mãos saem dos bolsos carregando bilhetes e moedas. mão direita seguido da mão esquerda. Coloco tudo empilhado, a mão direita pega o copo de drink e no mesmo movimento já saio dando início ao quarto e ultimo ato.

Minha ideia de dar voltas maiores até retornar à minha mesa era para não criar o efeito de memória periférica, que é quando alguém consegue guardar uma informação fácil sem estar prestando atenção ao momento. Se eu fosse direto do balcão para a mesa, muita gente, inconscientemente, saberia dizer onde está o cara que acabou de passar no balcão, mas se eu der voltas maiores, essa informação não ficará gravada.

A sensação de tontura e desequilíbrio retornam com meu caminhar, não serei tão perfeito, mas eu sei adaptar, minha crise gera oportunidade. O que há de errado com uma pequena tontura e desequilíbrio? afinal de contas, estou num bar, bebi demais, exagerei, sou alcóolatra.

Incorporo meu novo personagem, fica fácil, estou tonto como e desequilibrando como um bêbado fedorento, é como um carro na banguela.

Entre um andar desalinhado e uma esbarrada em alguém, consigo chegar de volta à mesa e ainda mantendo a cara de um embriagado.

4º Ato adaptado e concluído. Vamos ver agora se tudo vai dar certo.

A melodia do sucesso começa a ecoar por todos os cantos, enquanto os bilhetes correm pelo Saloon, Victor se move como uma sombra entre os meros coadjuvantes de sua bem arquiteta estratégia. Um após o outro, os atos vão surgindo efeito, como as notas do trompete fluindo em uma melodia agradável e dançante.

O “grandão” segue para a mesa das garotas, Diana fica livre do assédio, um agudo longo é ouvido e fim. A banda encerra sua brilhante apresentação com uma salva de palmas, luzes cênicas vão se apagando criando uma atmosfera impactante. Ela aproveita a pouca luz para lançar um olhar para a mesa dos 'três mosqueteiros'.

A doutora se endireita na cadeira, virando o tronco e posicionando o pé esquerdo no chão, deslizando o corpo lentamente pela cadeira alta de balção até tocar o outro pé no chão. Uma ajeitada clássica no cabelo, daquelas que mexe e não muda nada, e com indicador levantando os óculos e iniciando uma caminhada até a mesa de Victor.

Mark anuncia o óbvio.

— Lá vem ela!

Fitz faz uma observação.

— Usem a cabeça antes de fazer alguma pergunta ou afirmação!

Enquanto há uma movimentação de troca de bandas, as pessoas circulam pelo local, outras pessoas chegam e algumas saem para ver a próxima atração. As luzes voltam ao normal e até mais iluminado que o normal, tudo para auxiliar a mudança de instrumentos musicais.