De volta à Chicago.

Veio de Dakota do Sul

Depois de Pousar em Chicago, Victor seguiu para seu hotel principal, para guardar suas coisas e depois partiu para a reunião com um consultor de gerenciamento de risco para empresas para tratar da sugestão dada pelos conselheiros da empresa sobre participação da marca na bolsa de valores.

Após toda conversa, foi acordado que o melhor caminho seria fazer inicialmente uma investigação interna para descobrir quem, dentro da empresa, lucraria com a venda de ações. Além de firmarem esse compromisso Victor solicitou que fosse designado um consultor da empresa para atuar sigilosamente dentro da Seguradora como alguém de cargo administrativo com acesso total aos documentos e dados da empresa. Essa pessoa deveria estar em contato direto e sob extremo sigilo com Victor.

Um segundo ponto abordado foi o risco da aquisição de uma obra de arte com o capital da empresa. Mas Victor entendeu que, mesmo que o valor pudesse continuar congelado como um ativo financeiro segurado por qualquer instituição bancária, deveria haver um caminho menos tortuoso para impedir que Draamah colocasse duas mãos naquela máscara.

Encerrada a conversa, Victor saiu da sede da empresa e pegou um Uber à caminho do escritório de Roger Temple. No caminho Victor solicitou um favor pessoal à sua própria secretária, ele pediu a ela que investigasse qualquer ilegalidade no Leilão ou até mesmo na própria arte.

Não havia vontade de impedir o retorno de Muwerna, muito menos de vontade de trazê-la de volta, mas tudo estava acontecendo rápido demais e precisava ser freado.

Ao chegar no escritório do Sr. Temple, Victor percebeu que o homem estava mais calmo, não parecia mais aquele gato escaldado como no último encontro. As coisas pareciam ter tomado algum rumo bom e era hora de cobrar o favor. Ciente de sua dívida com Victor, Roger Temple ofereceu parte da grana do próximo carregamento, uma transação que iria resolver a vida medíocre dele, mas Victor deixou claro que não se importava com dinheiro e que preferia sua influência.

Roger ficou sob aviso, assim que Victor recebesse informações relevantes de sua secretária Roger Temple deveria mexer os pauzinhos para acabar com o evento da noite. Na saída, a secretária de Roger Temple esboçou não se recordar detalhes do último encontro. Victor sorriu e partiu colocando a mão esquerda no bolso do casaco onde estava a moeda deixada por Julien.

Victor tomou um taxi para retornar ao Hotel, no caminho pensou que, caso não tivesse informações que pudesse gerar um efeito administrativo no evento, deveria recorrer a algo mais extremo como talvez matar a Draamah ou ou Leo.

Matar a Draamah poderia atrair a atenção de Muwerna, ou seja lá quem mais está ligado a ela. Mas matar Leo inviabilizaria a aquisição do bem já que ele detém o conhecimento para juntar o montante para efetuar o lance, talvez isso não chame a atenção, talvez.

Victor sentiu falta daquela conversa sensata com Rastro de Neve. Ele sabia que uma hora ou outra o retorno de Muwerna será inevitável, mas ainda assim poderá ser adiado.

Ao chegar no hotel Victor deitou-se na cama, segurou o colar que recebeu do mestiço Mark, fechou os olhos e começou a mentalizar tudo que viveu.

Dois sucessos em um teste de inteligência e Ocultismo dificuldade 2 para tentar logar no servidor Onírico_br

O sono dos justos, Victor deita e o corpo cai em um sono profundo rapidamente, a sensação leve de estar em queda livre. A queda é sentida pelo corpo físico na forma de espasmos, cientificamente chamada de mioclonia.
A ciência fica até aqui.

Ao abrir os olhos, Victor observa uma rua, úmida e silenciosa no meio da madrugada, seus primeiros passos revelam um automóvel Ford antigo e preto, os detalhes das lojas, a forma do marketing e o brilho diferente.
Dá para chutar que voltamos a Chicago da década de vinte.

Um homem esguio e alto, usando um chapéu marrom, com um casaco longo num tom de marrom mais escuro, seus sapatos excepcionalmente engraxados, se encosta no posta da esquina enquanto acende um cigarro.
Ele usa uma caixa de fósforos de papel para riscar o pavio e soltar uma consistente baforada de fumaça em sua tragada inicial.

Ele acena com a mão, um aceno em formato de chamado, usando a mão que porta o cigarro, esse gesto é na direção de Victor, que percebe que tem seu cabelo altamente penteado com um gel ou cera que não deixa sequer um fio fora da ordem.

— Perdido como sempre, andando sem rumo, ao acaso das coincidências, não é mesmo, Victor?

A voz lhe parece familiar, mas ele esta com o rosto encoberto pela aba do chapéu marrom.

Totalmente envolto pela escuridão onírica que sempre precedia minha "entrada", me sento como se estivesse caindo em um abismo sem fim, meu corpo subjugado por espasmos que ecoam a desconexão entre mente e matéria. E então, como se emergisse de um túnel nebuloso, minha consciência entra em uma atmosfera gélida e úmida de uma rua deserta, banhada pela luz tênue dos postes. É como se o próprio tempo tivesse retrocedido, me transportando para os sombrios recantos de Chicago na década de vinte.

Meus passos ecoam pelas pedras desgastadas da calçada, vejo detalhes meticulosos da paisagem urbana congelada no tempo.

Um belíssimo Ford preto, com linhas arcaicas e design singular, descansa com o motor preaquecido à beira da rua, testemunha silenciosa de uma era há muito passada.

As fachadas das lojas, adornadas com letreiros de madeira polida e vidraças de cores opacas, exalam o charme nostálgico de um passado, há muito, esquecido.

Vejo um homem alto e esguio, envolto em um casaco longo de um tom marrom envelhecido. Um chapéu de abas largas sombreia seu rosto, emanando uma aura enigmática que combina perfeitamente com a paisagem noturna. Seus sapatos polidos reluzem à luz fraca, testemunhas silenciosas de um cuidado meticuloso.

Com uma elegância inata, o homem agora acende um cigarro, o fósforo crepitando em sua caixa de papel antes de iluminar a ponta do tabaco, exalando uma nuvem de fumaça que se dissipa lentamente na brisa noturna. Seus olhos, ocultos pelas sombras do chapéu, parecem fixos em mim, como se me conhecesse há muito tempo.

— Sem rumo não, eu diria que estou à mercê das artimanhas do destino, meu caro! Devolvo as palavras com a amistosidade de quem já o conhece, acompanhado de um breve sorriso enquanto acelero o passo na direção dele.

Este lugar carrega uma aura de mistério e perigo. É uma metrópole em pleno crescimento, com arranha-céus majestosos que iniciaram sua escalada em direção ao céu. As ruas de paralelepípedos, gastas pelo incessante tráfego de automóveis e carruagens, agora cede espaço ao silêncio da madrugada dos becos escuros, onde certamente ocorre encontros clandestinos e negócios ilícitos, onde a lei é uma mera sugestão e a justiça aplicada pelas próprias mãos dos poderosos, nada diferente do jogo de poder entre Nines e Strucker.

Me aproximo do homem com vestes elegantes que me chama pelo nome e estendo minha mão direita. — Como vais? dou os cumprimentos respeitando a conjugação verbal da época.

O homem levanta a aba do chapéu e releva o rosto, é Jullien, ele abre a porta e faz um gesto para entrar no Ford preto, puxa uma última tragada e então com um movimento tipico lança a bituca a uma longa distância.

⁣ — Venha comigo, quero te mostrar uma parte fundamental para o entendimento do todo, e nosso tempo aqui é bem curto, então vamos aproveitar para sermos produtivos aqui, certo? E, respondendo a sua pergunta, estou faminto!


O carro está vazio e a espera dos passageiros, enquanto caminha os poucos passos até a entrada, viaturas da polícia cortam o silêncio com suas sirenes e sinais luminosos intermitentes, parte do cenário caótico de Chicago nessa época.

Jullien pula por cima do capô preto e desliza para o volante, deixa a porta do passageiro aberta para Victor, e dá partida no motor fazendo a estrutura metálica tremer. Os faróis iluminam agora a noite em preto e branco e uma chuva fraca começa a cair.

— Você compreendeu o conceito de “presa”, “pouco tempo” e “faminto”?

Ele faz uma brincadeira e sorri, um sorriso jovial e tão sarcástico como sempre foi, sem medo ou temor, um espírito livre e aventureiro.

O homem por trás daquela figura gangster de 1920 só poderia ser ele, Julien. Ele ignora meu aperto de mão e eu fico no vácuo. Mizerávi! A bituca de cigarro é arremessada com um típico movimento de cachuleta no ar. Julien sinaliza pra eu entrar no carro.

Ele diz que quer me ensinar algo fundamental para o entendimento do todo e que para isso devemos ser produtivos para aproveitar o tempo. Além de declarar estar faminto.

Na esquina mais à frente, viaturas furiosas cortam as ruas espalhando o barulho das sirenas que ecoam pelo silêncio da madrugada com tons azuis e vermelhos do giroflex pincelando paredes e ruas banhadas pela negrura da noite.

Julien salta por sobre o capô e desliza como se fosse protagonista em um filme de aventuras. Isso é bem típico de Julien.

Ele destrava a porta do passageiro, dá a partida no motor do Ford, liga os faróis que emitem um facho de luz distante e opaco seguindo o traçado da rua, revelando agora um pequeno chuvisco que começa a se intensificar.

Eu abro a porta do passageiro e entro no carro. Meto logo a mão no rádio e procuro uma estação que esteja tocando a trilha sonora de Sin City | Marv

—  O conceito de pouco tempo e faminto são fáceis de encaixar, mas presa não.

— Me conte mais.

O carro começa a entrar em movimento e logo ganha velocidade, as ruas e quadras vão se repetindo até se tornarem um cenário comum, a viagem engrena.
Jullien troca as marchas e bota o motor para ranger, a música dá o tom do pano de fundo, ele se ajeita e começa a falar.

— O sangue é tudo, sabia? É ele quem manda, é quem diz quem está por cima e quem está por baixo. E consegui-lo é mais emocionante das tarefas noturnas, hoje levarei você até um lugar que vai te surpreender em emoção!

Ele bate no voltante do carro enquanto fala, se vira e olha para você ali no banco do passageiro.

Claramente estamos indo para as docas, o para-brisa se move mais rapidamente, a chuva la fora fica mais forte, a visibilidade cai, a noite fica mais fria.

Julien aponta para o porta luvas com o indicador.

— Tem algo para você, no caso de precisar, e às vezes precisa! Guarde a arma e não fale nada, aproveite essa situação para aprender, sei que precisará falar em algum momento, eu te explico tudo depois, se precisar.

A Smith&Welson cromada chama atenção, pesa e fria, as munições lá na porta luvas estão de um lado para outro como o balanço do carro, a arma não está carregada e deveria, basta pegar os projeteis jogados ali, então abrir o tambor e municiar o armamento. Feito!